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merda no sapato: O Homem que só apanhava a TVI

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O Homem que só apanhava a TVI


O Homem que só apanhava a TVI era um Homem soturno e infeliz que gritava e gemia ao som da programação. Seu sonho era assassinar João Cléber, mas ele nunca tinha muito tempo para pensar nisso enquanto se masturbava a contemplar as chamadas actrizes do programa. Às vezes uivava. Ao início, seus dias eram passados de forma entediante e nervosa enquanto remoía com dedos e dentes de cão aquilo que ainda restava do seu comando preto comprado na loja dos Chineses, porém lá haveria por se habituar.

O Homem que só apanhava a TVI era algo suicída no trato e ele nunca na vida pensara escapar ileso a uma loja chinesa. Dessa forma, fora com uma profunda sensação de desconforto que se aparcebera à saída que nenhum lhe retirara algum dos seus já putrefactos órgãos. Ele tinha um órgão lá em casa e ele tocava música, mas isso, bem vistas as coisas não faz muito sentido agora. Era importante delinear o essencial: o canal não mudava, o canal não mudava e era isso que o apoquentava, sempre o mesmo, e o mesmo era sempre, sempre a TVI. Dias e dias. Dias seguidos, anos e anos e anos volvidos.

O Homem que só apanhava a TVI era um Homem, mas o Homem que só apanhava a TVI não era um Homem qualquer. O Homem que só apanhava a TVI tinha roupas modernas e sobre a pele resquícios de brilhantina que não o incomodavam demasiado nas alturas em que dava portentosas cambalhotas para trás enquanto cantava êxitos musicais cujos temas percorriam desde as noites de verão a saltar à corda, às miúdas do liceu até às chiclettes gorilla. E que bem que ele cantava, e que bem que ele tirava macacos do nariz. O Homem que só apanhava a TVI era um homem informado, sabia variadissimas coisas e nunca se esquecera daquela vez em que uma vez na televisão ouvira falar da existência de dias e de noites. Era impressionante, pensava para ele mesmo, tanto haviam os dias como haviam as noites. As garinas gostavam de sair à noite, e à noite o seu pénis poderia muito bem ser como que a chave que abre os mais belos cofres uterinos. Por vezes esses cofres uterinos eram abertos também pelos seus amigos, mas os seus amigos tinham uma banda de punk e tinham o penteado muito fixe.

O Homem que só apanhava a TVI eventualmente se tornou num Homem como um outro qualquer e se fartou de ver a TVI e foi por isso que se imolara no próprio prédio, queimando juntamente com ele todos os Homens como outros quaisqueres e todos os Homens diferentes dos outros quaisqueres. Ele estava feliz, a TVI não dava no Inferno.