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merda no sapato: Ya "tá bem", mas já se calavam, não?! <br></br><u> Artigo de opinião</u>

domingo, dezembro 12, 2004

Ya "tá bem", mas já se calavam, não?!

Artigo de opinião


Este domingo fiz algo inédito no decorrer destes últimos anos, acordei de manhã. "Estranho" - pensará quem porventura me conhecerá melhor. Mas é de facto verdade, eu acordei antes mesmo das 10 horas, eram sensívelmente nove e meia já eu estava desperto.
Ora, como seria de esperar não havia nada para fazer a não ser ver televisão, é que num domingo antes das 10 horas as pessoas que geralmente estão acordadas ou são estúpidas, ou trabalham, ou então simplesmente enganaram-se no dia da semana.
Creio que não me enquadro em nenhuma destas situações, apesar de já há algum tempo ser estúpido, esse factor desta vez não teve qualquer influência de maior.
Como devem saber realizava-se hoje em Tóquio a Final da Taça Intercontinental de clubes, que este ano para o orgulho dos portugueses, punha frente-a-frente o F.C. Porto e uma equipa de não-toxicodependentes da cidade de Caldas na Colômbia, o "Once Caldas".
Apesar de não ser adepto do Porto e não ligar ultimamente muito ao futebol, a ansiedade era grande, faltando cerca de 40 minutos para o jogo, sem nada de relevante e que me entretesse realmente, tive obrigatoriamente de "fazer tempo" até que soásse o apito inicial, recostei-me no sofá e peguei no comando. Foi então que, e quase instintivamente, ao mover os dedos nesse extenuoso execício que é o zapping, me deparei com algo no mínimo comovente, era de facto de ir ás lágrimas,
recordo-me perfeitamente, 9h:30, ao pulsar a tecla 3 do comando da minha caixinha mágica dei de caras com a inconfundível imagem desse senhor que dá pelo nome de Paulo Portas... tecla 3, Paulo Portas... e dizem que não há uma força poderosa e oculta na origem de todos os acontecimentos... Enfim, nada que eu não estivesse á espera, comentava na altura a demissão do nosso futuro ex-primeiro-ministro. Eu cá concordo com o que disse, pelo menos em relação ás coisas das quais partilhamos a mesma opinião, pena o facto de não ter ouvido uma única palavra pois mudei de imediato de canal, mas ficará certamente para a próxima.
A partir daqui as coisas infelimente começaram a piorar, com a pressa mudei precipitadamente para a RTP1, naquela altura emitia "A Eucaristia Dominical". Meu Deus! Eu até estava bem disposto, mas que raio de forma de começar o dia! Aquilo não augurava nada de bom. Para além do irritante sotaque ribatejano no monótono discurso do pároco, ele só era interrompido quando o coro cantava. Deixei-me ficar a apreciar, já não via algo tão estranho desde que me tinha ido ver ao espelho um quarto de hora antes, os elementos do grupo coral pareciam mais mortos do que própriamente vivos. Todos tinham aquela típica cara de "Porra! Se eu apanho o tipo que me inscreveu nesta porcaria enfio-lhe a hóstia pelo sítio por onde ela supostamente deveria sair!". As músicas, essas, eram capazes de incomodar o mais surdo dos surdos, para além da irritante melodia, as vozes dos elementos no seu todo mais faziam lembrar um grupo de clones de Mónicas Sintras e Josés Malhoas a cantar em simultâneo. E isto se estivessem roucos.
Confesso que me faz um pouco confusão ver na televisão pública
celebrações religiosas, por mais maioritária que essa religião seja não faz qualquer tipo de sentido, é estar práticamente a publicitar um culto, é estar a marginalizar as demais. Alguém já viu na TV portuguesa celebrações judaicas, budistas ou muçulmanas? Presumo que a resposta seja - não!
Mais: Alguém já viu nalgum canal estrangeiro, não considerando obviamente os canais árabes, emissões de Missas dominicais?
Eu não.
É o país que temos. A manhã acabou por não correr tão mal quanto isso, vá lá, Santana Lopes já não estava no governo, Saddham Hussein continuava a ser torturado na prisão e o Porto ganhou, levando pela segunda vez o troféu para casa.
Ainda tive tempo de ver algo que jamais me esquecerei, nunca vi tantos Colombianos agarrados ao chão chorando, pelo menos no Japão, que na Colômbia a história já é diferente, mas falaremos disto das drogas e da capital Bogotá num outro dia.